Redirecionamento

09 maio, 2011

Desigualdade de Gênero e Raça no Rio Grande do Norte - Só Pode Ser Preconceito

Existe uma tese no Brasil de que não somos um país racista. Talvez a declaração mais impactante dessa perspectiva tenha sido o livro escrito pelo jornalista Ali Kamel, diretor de jornalismo da Rede Globo. Com o título "Não somos um país racista - uma reação aos que querem nos transformar numa nação bicolor", o autor parece ter como meta principal de seu livro levantar argumento contra as políticas de cotas raciais nas universidades públicas brasileiras.

Todavia, os dados que apresento a seguir não me fazem pensar em outra coisa se não em discriminação de gênero e raça. Não consigo encontrar uma razão lógica para explicar esses diferenciais de renda entre essas duas populações, uma vez que do ponto de vista da formação e do ambiente essas populações apresentem características semelhantes.

Os dados referem-se ao RN, o ano é 2009 e a tabulação foi feita pelo Centro de Políticas Sociais da FGV.

Para eliminar algumas distorções selecionei a população com 12 anos ou mais de estudos, com residência urbana e não trabalhador(a) da construção civil. Portanto, o indivíduo representado nesses dados já possui um nível educacional acima da média (com 12 anos de estudos ele tem no mínimo o ensino médio), não trabalha em atividades agrícolas e nem na construção civil (setores que reconhecidamente remuneram mal).

Mesmo fazendo um certo nivelamento entre suas características educacionais, de local de residência e setor de atividade em que trabalha, os indicadores ainda aparecem com uma grande dose de desigualdade.

Em primeiro lugar se destaca a desigualdade de gênero: para qualquer que seja a cor declarada pela pessoa, se ela é do gênero feminino seu rendimento fica cerca de 36% inferior ao do representante do gênero masculino da mesma cor.

Em segundo lugar aparece a desigualdade na cor: o homem pardo ou preto recebe 20% a menos do que o homem branco. Esse mesmo percentual se encontra nas mulheres pretas e pardas, ou seja, comparada às mulheres brancas elas recebem um rendimento 20% inferior.

Portanto, ser branco ou preto/pardo parece fazer diferença na hora de ingressar no mercado de trabalho. A situação é ainda mais crítica se você for negro e, além disso, do sexo feminino.

Uma mulher preta ou parda, com 12 anos ou mais de estudos, residentes nas cidades do RN, que não trabalha na construção civil recebe um rendimento equivalente à metade de um homem branco com essas mesmas características. Parte desse diferencial de rendimento parece vir associada à cor de sua pele, outra parte parece derivar de sua condição de gênero.

Não consigo formular uma explicação plausível para esses diferenciais de rendimento, apenas uma coisa me vem à cabeça: só pode ser preconceito.



3 comentários:

Gustavo disse...

Para estes dados foi levado em consideração o nível educacional? Pelo que parece não. Independentemente de cor o nível educacional e trabalho exercido é fator predominante. Ao invés de tentar colocar pessoas que não tiveram chance de fazer um ensino médio de qualidade na universidade deve-se investir em escolas públicas de qualidade.

E já respondendo alguma pergunta: sim, considero que a criação de cotas irá criar uma geração de jovens que realmente sejam preconceituosas.

No meu trabalho o salário para homens e mulheres, independentemente de cor e gênero é o mesmo.

Quanto a seus dados: No caso das mulheres, onde muitas dessas devem ser empregadas domésticas baixando esse valor médio.
Você precisa comparar os dados de gêneros e raça para empregos e funções iguais. Um médico negro ganha menos que um médico branco? Duvido. Uma médica menos que um médico? Também duvido.

Fora isso, acompanho seu blog e gosto muito. Não existem muitas outras fontes para os dados de economia do RN.

Gustavo disse...

Para estes dados foi levado em consideração o nível educacional? Pelo que parece não. Independentemente de cor o nível educacional e trabalho exercido é fator predominante. Ao invés de tentar colocar pessoas que não tiveram chance de fazer um ensino médio de qualidade na universidade deve-se investir em escolas públicas de qualidade.

E já respondendo alguma pergunta: sim, considero que a criação de cotas irá criar uma geração de jovens que realmente sejam preconceituosas.

No meu trabalho o salário para homens e mulheres, independentemente de cor e gênero é o mesmo.

Quanto a seus dados: No caso das mulheres, onde muitas dessas devem ser empregadas domésticas baixando esse valor médio.
Você precisa comparar os dados de gêneros e raça para empregos e funções iguais. Um médico negro ganha menos que um médico branco? Duvido. Uma médica menos que um médico? Também duvido.

Fora isso, acompanho seu blog e gosto muito. Não existem muitas outras fontes para os dados de economia do RN.

pequena salome disse...

esse Gustavo ai não leu o texto... ou leu um texto de outro lugar... a pesquisa partiu das pessoas que possuem mais de 12 anos de escolaridade... eu estudei no curso de Direito da UFPR antes e durante a presença da política de cotas e percebi o contrário que a presença de pessoas negras conferiu maior diversidade e respeito na universidade... há estudos na UNB que revelam isso... é preciso estudar e conhecer os dados antes de sair falando besteira a toa... há de fato uma diferença grande salarial entre homens e mulheres que exercem a mesma profissão... há varios estudos sobre isso... o MPF possui algumas ações civis públicas nesse sentido... pra ilustrar http://blogs.estadao.com.br/vox-publica/2011/05/23/veja-as-diferencas-de-salario-entre-homens-e-mulheres-com-3%C2%BA-grau-nas-funcoes-mais-bem-pagas/ e tb http://blogs.estadao.com.br/vox-publica/2011/05/23/elevador-quebrado/